Por Andrea Felice
Senti vontade de escrever sobre o processo de aprendizagem no Yoga, talvez porque eu tenha trabalhado minha vida toda em escolas, como professora e educadora de adolescentes, talvez porque percebi que ensinar os adultos é tão ou mais complexo que ensinar jovens, talvez porque a beleza do processo de aprender sempre me encantará e me surpreenderá, não importa o objeto de aprendizagem.
Desde que iniciei a condução de aulas de Yoga, coleciono inúmeras falas de alunos novos, que trazem uma espécie de pedido de desculpas, carregado por constrangimento e até mesmo por vergonha de não serem flexíveis, bons em Yoga ou algo semelhante.
Jovens são normalmente mais abertos ao novo e ao desconhecido. Sabem que o não saber faz parte do dia a dia nas escolas.
Um estúdio de Yoga não tem cara de escola; nós, professores, não aplicamos provas nem controlamos faltas e lições não feitas; nossas lindas salas não tem cadeiras, mesas e lousas, e esse distanciamento tanto temporal como espacial, leva os adultos a esquecerem de como aprendemos, quando éramos crianças.
Todo processo de aprendizagem requer uma abertura, uma entrega, uma rendição, que só é possível com a construção lenta e sólida de uma ponte entre professor e aluno. Essa ponte é a confiança.
Com a confiança, há entrega e a possibilidade de se expor, de trazer a vulnerabilidade de ambas as partes, de conectar corações e compartilhar experiências.
Ainda incluo o desejo na base de todo o processo educativo: o desejo do mestre de querer ver seus alunos aprenderem, de comemorar suas conquistas e superações, de entregar, com total generosidade e desprendimento o que é ensinado ao outro, sem medo de se tornar um professor menos capaz que seus alunos. Amo um texto sobre o mestre ignorante. É sempre bom ser esse mestre aberto a aprender por toda a vida e sem medo de entregar seus conhecimentos, experiências, vivências, tudo que sabe, aos seus discípulos. “O conhecimento não está no homem, mas entre os homens. Sócrates”
Essa é a cor da alma de um professor: generosidade.
O aluno desejoso de conhecer, de entrar em novos mundos, de ser sujeito de seu processo permeia qualquer aprendizagem de sucesso. O brilho nos olhos não pode ser ofuscado por derrotas e dificuldades no caminho. Não há como aprender sem errar e fracassar. São etapas naturais desse processo tortuoso e infinito por que passamos ontem, hoje e até o final de nossas vidas.
Aprender requer escutar, perguntar, tirar dúvidas, falar, ler, estudar, repetir, refazer, repensar, trocar, frustrar-se, celebrar, dar passos para frente e muitos para trás, parar nos obstáculos, analisar, errar, errar de novo e de novo, e sempre. Não há acerto, sem erros. E sem perceber, ensinamos o que aprendemos. Não há nada mais lindo. Queremos repassar o que gostamos, o que nos surpreendeu, o que nos fez bem, o que levou nossos corpos a saírem da zona de conforto e experienciar o mundo.
O processo de aprendizagem é sempre uma via de mão dupla. Uma troca, uma conexão mútua e profunda entre quem ensina e quem aprende. Às vezes, esses papéis são trocados sem nos darmos conta. Onde um ensina, dois aprendem. É comum sairmos de uma aula que damos e termos a sensação de que nossos alunos nos ensinaram mais do que nos propusemos a ensinar. E nessa dança de quem ensina, quem aprende, somos capturados pela música que cada aprendente nos traz. Dançamos ritmos diferentes em cada aula dada e em cada encontro.
Andrea Felice
Namaste ૐ